Por: Wagner Gonsalez
A Cultura nos coloca como bem ou mal vistos, como pessoas “para
curtir” ou pessoas à “não curtir” (seguindo a idéia de Facebook)
A cultura
é como um grande jogo. Entra-se nele conhecendo e praticando suas regras. Com
os pés não se joga basquete. Os toques de mão, exceto por parte do goleiro, são
proibidos no futebol. Se alguém se atreve a infringir o código esportivo,
tornar-se-ia um estranho no jogo.
Na
cultura sentimo-nos
comportamentos, os símbolos, os valores, os significados das realidades, as
relações entre as pessoas e as coisas desenvolvem-se aparentemente na
espontaneidade dos desejos e das vontades. Julgamos que decidimos e escolhemos
exatamente o que queremos numa liberdade sem interferências externas.
Cultura (do latim colere, que significa
cultivar) é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição
genérica formulada por Edward B. Tylor, segundo a qual cultura é “aquele todo
complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os
costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como
membro da sociedade”.
consciente e inconsciente que nos regem os comportamentos. Somente se pararmos
e analisarmos percebemos a sutileza escondida de tal teia de normas e registros
a comandar-nos.
A cultura
do descartável permeia nossas ações e atitudes diariamente sem que percebamos.
Está a orquestrar-nos as ações. Num primeiro momento imediato e direto aparece
na relação com as coisas. Às vezes por razões sérias e necessárias.
No Japão,
assim me disseram, eletrodomésticos são descartáveis depois de dois anos, as
pessoas colocam no lixo eletrônico da rua para coleta, mesmo estando
outros países proíbe-se a circulação de carros de mais de 7 ou 10 anos de
fabricação. Tal procedimento nem sempre atende o desejo de melhoria, de
economia de recursos naturais, mas do lucro.
O
descartável na relação com as coisas revela uma dupla face de nossa cultura
atual. Positivamente permite que tenhamos coisas melhores, funcionais,
perfeitas. Assim destroem-se aquelas que já se tornaram trastes inúteis. No
entanto, um lado negativo esconde-se nesse progresso maléfico regido pelo
lucro. Conduz-nos a criar um clima de consumismo, de desperdício, de destruição
de valores pessoais, históricos culturais, morais e substituir por desejos
artificiais para fazer descer redondo pela garganta bens inúteis ou, pelo
menos, supérfluos. É o lado terrivelmente comercial do descartável.
Mais
grave ainda quando essa cultura atinge bens afetivos e espirituais. Os amores
se fazem descartáveis no matrimônio. No primeiro momento em que apareça uma
outra oferta melhor, mais bonita e atraente, desfazem-se os laços anteriores.
As amizades navegam por sempre novos rios ao sopro dos gostos descartáveis.
Nada mais
trágico do que amores descartáveis. Deixam de ser amor. É da natureza do amor,
qualquer que ele seja, a perenidade, a eternidade. Mesmo que termine, quis ser
nos seus inícios, perpétuo, definitivo.
E
ultimamente a religião vem sendo atingida por essa onda. Descartam-se verdades,
dogmas, ritos, símbolos toda vez que alguém se defronte com outros melhores
para seu sabor religioso. Tudo passa a ser transitório, passageiro. No fundo,
resta o silêncio vazio da falta de valores absolutos.